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quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

A Distorção na Porcentagem Sexual nas Ninhadas de Bettas


A Distorção na Porcentagem Sexual nas Ninhadas de Bettas


Todos aqueles que criam rotineiramente bettas eventualmente encontram uma ninhada que produz mais machos que fêmeas e vice-versa. Se fizermos uma lista com as explicações dos criadores encontraremos um monte de fatores: pH muito alto, pH muito baixo, a idade em que os peixes foram jarreados, a fase da lua, a temperatura da água, o preço da cerveja, e por aí vai. O que é imediatamente evidente, no entanto, é que a porcentagem entre os sexos pode variar de 100% fêmeas a 100% machos; o sexo é inquestionavelmente maleável.

Respostas a estas perguntas algumas vezes devem ser examinadas de uma maneira diferente. Perguntemos em primeiro lugar porque esperamos que a porcentagem entre os sexos seja de 1:1. Embora sejamos condicionados a acreditar que isto é "normal" em virtude da porcentagem sexual em humanos, nós somos familiarizados com insetos sociais como formigas e cupins que apresentam uma grande diferença entre esta porcentagem. Porque então devemos ter uma porcentagem entre os sexos de 1:1? Se conseguirmos responder esta questão, talvez possamos configurar quais os mecanismos que fazem com a que a porcentagem de 1:1 seja violada.


Imagine uma população de animais que tenha um igual número de machos e fêmeas. Nós exploraremos o fato de que mutações distorcem esta porcentagem de 1:1. Mutações deste tipo acontecem toda hora. Um clássico caso foi o responsável pela devastação do milho em 1970. Uma linhagem mutante tinha as plantas machos estéreis. Este cultivar tinha a notável característica de facilidade de manejo e foi plantado intensamente. Inafortunadamente, este cultivar de plantas machos estéreis também tinha a propensão à suscetibilidade a fungos e a maior parte da colheita de 1970 foi perdida. Mutações que alteram a porcentagem sexual, assim como mutações que as restabelecem são bem conhecidas.


Agora imaginemos o fato de que aconteça uma mutação natural que produza um excesso de machos. A mutação produzirá mais machos que fêmeas. Alguns machos inevitavelmente não cruzarão com fêmeas. Assim sendo, nem todos os peixes mutantes conseguiram se reproduzir e essa mutação estará em desvantagem em relação àquela que produz casais em igual número. Cruzamentos que produzam mais machos terão menos descendentes que cruzamentos que produzam a proporção de um macho para cada fêmea. O argumento tem dois lados. Se a mutação produz um excesso de fêmeas, então algumas delas não procriarão e esta mutação perderá para aquela que produz a porcentagem de 1:1.


Agora que nos temos à resposta para a pergunta não respondida, nós podemos retornar a questão que realmente queremos responder. A chave vem de olhar atentamente o argumento para porcentagens 1:1. Ao formular esta pergunta, eu respondo a você que imagine uma população com igual número de machos e fêmeas. O que acontece se alterarmos esta proporção? O que acontece se houver uma deficiência de machos, uma condição, por exemplo, que aconteceu no fim da segunda guerra mundial? Se esta guerra tivesse tornado uma geração humana, com uma deficiência de homens crônica, então as mulheres que produzissem mais homens estariam em vantagem em relação a uma mulher que produzisse mais mulheres. Esta vantagem, no entanto, seria temporária. Ao término da Guerra, a população retornaria normalmente ao normal e o excesso da produção de homens voltaria a não ser vantajoso.


Quando a proporção entre os sexos está diferente de 1:1 existe uma vantagem real de produzir um excesso de determinado sexo, sendo que esta vantagem será eventualmente eliminada com o tempo. Existe alguma maneira que um animal pode agarrar esta vantagem no jogo da sobrevivência? Sim, mas somente se o organismo puder de algum modo avaliar se a relação entre os sexos, em sua vizinhança, estiver desbalanceada e alterar esta relação com segurança. Imagine que um Betta, ou qualquer outro animal seja capaz de detector que existem muitos machos e produza um excesso de fêmeas (ou vice versa) em resposta. Um organismo assim seria muito melhor que um organismo que produza apenas a porcentagem 1:1.


O problema aqui, com certeza, é que o organismo tem que ser apto para saber com alguma precisão a porcentagem entre cada sexo em seu lago, charco ou alagado. Os Bettas, presumivelmente, não pode fazer a mais simples das aritméticas, então como eles podem calcular a porcentagem entre os sexos em sua região? Isto acaba sendo um grande problema. Nós esperamos que os machos sempre olhem para as fêmeas maiores e as fêmeas olhem para os machos mais fortes, pela razão óbvia que fêmeas grandes produzem mais ovos e machos mais fortes defendem melhor seus ninhos.


Se uma fêmea de Betta encontra apenas machos pequenos em seu ambiente, ela pode “sentir” que a população de machos está deficitária. Se cruzar com um destes machinhos, ela produzirá um excesso de machos, tenho uma descendência maior que se produzisse uma ninhada de 1:1. Similarmente, se uma pequena fêmea encontra-se sendo cortejada pelos mais fortes e robustos machos, ela pode da mesma maneira “sentir” uma deficiência de fêmeas no ambiente e correspondentemente produzir uma freqüência maior de fêmeas em sua ninhada.


Se os Bettas tem a capacidade biológica de ajustar a porcentagem entre os sexos em suas ninhadas, então necessitamos apenas mexer com o tamanho de nossos reprodutores para manipular o resultado de nossas ninhadas. Será isso mesmo que acontece? Para poder responder questões como esta, precisamos apenas fazer as experiências em que as hipóteses seriam: pequenos machos + grandes fêmeas dão um excesso de machos; pequenas fêmeas com grandes machos dão um excesso de fêmeas, e um casal equivalente daria uma porcentagem de 1:1. Necessitamos apenas de umas dez ninhadas grandes (com mais de 100 filhotes) resultantes de cruzamentos de peixes com tamanho significantemente diferente e outras de peixes de tamanho semelhante, de preferência usando animais de uma única linhagem (preferivelmente imbreeding). Isto nos custaria uns 50 tanques e algumas centenas de beteiras!


Antes de embarcar neste projeto, no entanto, é sempre prudente rever a literatura científica existente sobre o assunto. Até recentemente isto seria uma dor de cabeça, requerendo horas e horas de pesquisa em alguma biblioteca universitária, apenas para ter-se uma idéia sobre o assunto. O IBC, no entanto, simplificou bastante a matéria. Uma bibliografia parcial sobre o gênero Betta pode ser baixada no website do IBC:

http://www.ibcbettas.org/ResGrants.htm

Uma pesquisa desta literatura revela – e isso acontece freqüentemente em artigos científicos sobre matérias do interesse de hobistas – que a questão já foi perguntada e respondida pelo Dr. Gene Lucas. Como parte de sua tese de doutorado na Iowa State University, Gene fez um grande número de cruzamentos e manteve anotações cuidadosas sobre o tamanho dos reprodutores e a porcentagem sexual dos filhotes nas ninhadas. O trabalho do Dr Gene está disponível para aqueles que lêem seus artigos na coluna sobre Bettas da revista FAMA. Muitos que lêem estes artigos não têm noção do tamanho do trabalho do Dr. Gene, especialmente em virtude do fato que uma fração significante de seus escritos foram feitos antes da coluna existir na revista. O site do IBC possui uma bibliografia da contribuição do Dr. Lucas para a revista FAMA desde janeiro de 1978 até 2001, que pode ser baixada no endereço acima.


A resposta para a nossa questão é encontrada na coluna sobre Bettas da revista FAMA de Fevereiro de 1979. Gene diz que, "Jovens machos cruzados com fêmeas velhas dão uma porcentagem entre sexos na ninhada de 34:2 para os machos. Os machos mais velhos cruzados com fêmeas jovens dão uma porcentagem de 5:12" O resultado de Gene, interessantemente, é precisamente o que poderíamos esperar se realmente houvesse uma adaptação dos Bettas ao tamanho dos reprodutores modificando a porcentagem sexual de suas ninhadas.



Embora os dados do Dr. Lucas possam confirmar o que a teoria evolucionária prediz, o fato não exclui que outros fatores possam influenciar a porcentagem sexual das nossas ninhadas. Apesar disso estes dados são importantes e devem ser levados em conta por criadores comerciais ou amadores. Se você é um criador comercial, pode esperar uma freqüência maior de machos cruzando jovens machos com fêmeas mais velhas. E hobistas, se estão tentando continuar a desenvolver e manter uma linhagem, têm que ser cuidadosos com cruzamentos entre pais e filhas, pois gerarão poucos machos. Cruzamentos de mães com filhos ao contrário, gerarão poucas fêmeas. Os primeiros princípios evolucionários sugerem que os criadores devem fazer ambos os cruzamentos ou cruzar irmão com irmã para poder assegurar ter um número generoso de ambos os sexos para escolher como reprodutores da próxima geração.

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